Como a automação na produção pode revolucionar a lógica da INDÚSTRIA DA MODA?
- Marília Carvalhinha
- 26 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Este mês a McKinsey publicou um artigo sobre a combinação de automação da produção de moda com a proximidade desta produção ao mercado consumidor, e como esta combinação pode revolucionar a maneira como a indústria da moda funciona.
A cadeia têxtil-vestuário é tradicionalmente fragmentada, ou seja, o processo que envolve desenvolver produtos, produzir (corte, costura, acabamento), e distribuir (logística, venda de atacado e varejo) pode estar dividido entre muitas empresas para um único lote de produção. Além de fragmentada, ela também está geograficamente dispersa no globo. A distribuição pode estar no país de consumo, o desenvolvimento pode estar no país da matriz da marca, e a produção dividida em diferentes países do leste asiático.
Um dos principais motivos para esta fragmentação é o fato de que a produção de roupas é altamente intensiva em mão-de-obra. Apenas a etapa da costura toma aproximadamente 80% do tempo de produção. Dessa forma, a tendência é buscar regiões de menor custo do trabalho para realizar estas atividades. Dá para imaginar quanto dinheiro e energia são gastos para transportar as partes físcias de produtos entre diferentes logais e para coordenar tantos agentes na cadeia?
Mas talvez estejamos próximos de uma transição deste modelo, com novas tecnologias de produção que automatizam este processo e que tornam viáveis produções em lotes menores, mais ajustados à demanda. Um exemplo desta evolução são as máquinas retilíneas automatizadas, que permitem a produção de peças prontas a partir dos fios, sem necessidade de corte, separação e costura. Apesar de não ser uma tecnologia exatamente nova (há décadas estas máquinas vem sendo utilizadas na produção de peças de tricô), atualmente estão atingindo novos níveis de sofisticação em termos de resultados e de velocidade. Quem se interessar por mais detalhes desta história, pode acessar o link para o artigo que publiquei no congresso DTEX no ano passado.
Um dos casos que eu trouxe neste artigo foi o da loja pop-up Adidas "knit for you", instituída por alguns meses do ano passado em Berlim. Nesta loja, o cliente pôde participar do design e assistir à fabricação de seu produto “in loco” e em tempo real. Ao entrar, o cliente se depara com três áreas inusitadas para uma loja: uma sala de projeção com um body-scanner, uma mesa de desenvolvimento de produtos com amostras de fios, malhas e padrões, e um “aquário” com máquinas retilíneas automáticas e uma equipe enxuta de atividades de acabamento de produção.
Ao entrar no body-scanner, o cliente tem suas medidas obtidas e, com isso, é definido o tamanho ideal do seu sweater. Além disso ele tem a oportunidade de manipular as cores e estampa de sua peça, que são projetados em seu próprio corpo. Em uma mesa de desenvolvimento de produtos, as texturas podem ser tocadas e o modelo desenvolvido é projetado em uma tela. Quando aprovado o modelo, o cliente tecla “print” e a peça começa a ser fabricada no “aquário” de produção. Ou seja, um processo que tradicionalmente na indústria da moda leva mais de um ano entre o design, a produção, a logística de distribuição e a venda, é substituído por apenas sessenta minutos. As equipes de desenvolvimento de produtos mudam de papel, o varejo muda de configuração, a “função produção” quase desaparece como a conhecemos.
Este exemplo pode ilustrar bem o que a McKinsey chama a atenção no seu estudo: ao automatizar, talvez não faça mais sentido fragmentar tanto e produzir em países tão distantes do mercado consumidor!
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